segunda-feira, 30 de março de 2009

A VIDA SOCIAL EM MOURAZ

Até meados dos anos cinquenta a iluminação das casas era assegurada por candeias de azeite ou por candeeiros a petróleo. As refeições eram confeccionadas ao lume da lareira em panelas de ferro e em sertãs colocadas sobre uma trempe redonda, igualmente em ferro. A chama da lareira era iniciada com caruma e gravetos recolhidos nos pinhais e alimentada com pequenos feixes de vides resultantes da poda das videiras e lenha das ramagens dos pinheiros. À noite, após a ceia, reunia-se toda a família à volta do lume da lareira e os mais velhos contavam histórias de diabos, bruxas e lobisomens.
Os hábitos alimentares e o regime das refeições eram ajustados às exigências impostas pelo trabalho do campo. Logo de manhã cedo, para compensar o enorme desgaste físico e o consequente dispêndio de energia, tomavam a dejejua que compreendia um copo de vinho e um pedaço de broa (a buxa) com chouriça ou sardinha assada. Para que o corpo se não negasse havia que tomar, poucos minutos antes de enregar ao trabalho, uma verdadeira bomba energética, composta por um copo de aguardente com açúcar dissolvido e figos secos. Por volta das oito da manhã, já com quase duas horas de trabalho decorridas, comiam um prato de batatas cozidas acompanhadas de couves, bacalhau, sardinha, torresmos ou chouriça cozida. A esta refeição dava-se o nome de almoço.
A meio da manhã comia-se a piqueta: broa com sardinha frita ou assada (a chusca), ou umas rodelas de chouriça cozida, e vinho a acompanhar. Também era usual comer-se as papas, feitas de farinha de milho e couves ou nabiças raladas, que haviam sobrado do dia anterior, sendo reaquecidas numa frigideira com um pouco de azeite. Ao meio-dia comia-se o jantar (jentar), a meio da tarde a merenda (marenda) e à noite, depois do trabalho, a ceia. Nas refeições principais o conduto era sempre precedido por um prato de sopa. Depois de comida a parte mais sólida do caldo, misturava-se vinho tinto na parte que restava e bebia-se do prato. (...)


In Mouraz História e Memórias, António Fernando Dias de Almeida

domingo, 29 de março de 2009

A DEMOGRAFIA DE MOURAZ

No estudo da demografia local colocam-se dificuldades decorrentes da escassez de fontes de informação relativa à população. De facto, a única informação disponível até meados do século XIX é o número de moradores do concelho de Mouraz, referente ao ano de 1527, apurado no primeiro numeramento mandado realizar por D. João III. A partir de 1864 passaram a realizar-se censos com alguma regularidade, utilizando métodos e técnicas credíveis, sendo por isso de maior confiança os valores da população após aquela data.
Com efeito, dos valores dos gráficos que a seguir apresentamos, os referentes ao período de 1700 a 1830 são estimativas calculadas com base em numeramentos, arrolamentos gerais e informações dispersas recolhidas em outras fontes históricas, tendo em consideração as tendências demográficas verificadas naquele período, quer a nível nacional, quer na Terra de Besteiros. Para a identificação daquelas tendências socorremo-nos de duas obras: o “Dicionário da História de Portugal”, de Oliveira Marques, e “O Concelho de Tondela – Dos finais do século XVI aos inícios do século XX – aspectos demográficos e económicos”, do Professor Doutor António Manuel Matoso Martinho.


A densidade populacional, que representa o número médio de habitantes por quilómetro quadrado, foi calculada tomando como constante o valor de 9,22 que corresponde à área actual da freguesia de Mouraz, em quilómetros quadrados.
Os dados disponíveis mostram que entre 1527 e 1830 a população de Mouraz teve um crescimento lento, registando-se, ao longo de três séculos, um aumento médio de pouco mais de um habitante por ano. No entanto, não se tratou de um crescimento uniforme e contínuo, tendo-se registado algumas fases de estagnação, e até de decréscimo populacional (...)

In Mouraz História e Memórias, António Fernando Dias de Almeida