segunda-feira, 30 de março de 2009

A VIDA SOCIAL EM MOURAZ

Até meados dos anos cinquenta a iluminação das casas era assegurada por candeias de azeite ou por candeeiros a petróleo. As refeições eram confeccionadas ao lume da lareira em panelas de ferro e em sertãs colocadas sobre uma trempe redonda, igualmente em ferro. A chama da lareira era iniciada com caruma e gravetos recolhidos nos pinhais e alimentada com pequenos feixes de vides resultantes da poda das videiras e lenha das ramagens dos pinheiros. À noite, após a ceia, reunia-se toda a família à volta do lume da lareira e os mais velhos contavam histórias de diabos, bruxas e lobisomens.
Os hábitos alimentares e o regime das refeições eram ajustados às exigências impostas pelo trabalho do campo. Logo de manhã cedo, para compensar o enorme desgaste físico e o consequente dispêndio de energia, tomavam a dejejua que compreendia um copo de vinho e um pedaço de broa (a buxa) com chouriça ou sardinha assada. Para que o corpo se não negasse havia que tomar, poucos minutos antes de enregar ao trabalho, uma verdadeira bomba energética, composta por um copo de aguardente com açúcar dissolvido e figos secos. Por volta das oito da manhã, já com quase duas horas de trabalho decorridas, comiam um prato de batatas cozidas acompanhadas de couves, bacalhau, sardinha, torresmos ou chouriça cozida. A esta refeição dava-se o nome de almoço.
A meio da manhã comia-se a piqueta: broa com sardinha frita ou assada (a chusca), ou umas rodelas de chouriça cozida, e vinho a acompanhar. Também era usual comer-se as papas, feitas de farinha de milho e couves ou nabiças raladas, que haviam sobrado do dia anterior, sendo reaquecidas numa frigideira com um pouco de azeite. Ao meio-dia comia-se o jantar (jentar), a meio da tarde a merenda (marenda) e à noite, depois do trabalho, a ceia. Nas refeições principais o conduto era sempre precedido por um prato de sopa. Depois de comida a parte mais sólida do caldo, misturava-se vinho tinto na parte que restava e bebia-se do prato. (...)


In Mouraz História e Memórias, António Fernando Dias de Almeida

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